quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Troika corta chico-espertismo


António era um homem trabalhador. Nunca tivera férias na vida. Os seus dias eram passados a lavrar a terra, único sustento da família. Mesmo doente, em dias de chuva intensa, ou de sol abrasador tinha de se levantar bem cedo e pôr mãos à obra. As dores nas costas e nas pernas, as mãos gretadas e ásperas e os cabelos brancos eram sinais visíveis de uma vida de trabalho intenso, duro e de muitas dificuldades. Manuel, seu vizinho, era de uma condição diferente. Toda a vida conseguiu as coisas de forma fácil, sem trabalho, sem esforço. E sempre que queria uma e outra coisa, conseguia-a. Mesmo que isso implicasse passar por cima de quem quer que fosse.
Ora vem isto a propósito de uma estória que ouvi na rádio.
Um maratonista britânico venceu a medalha de bronze depois de ter feito...batota. Cansado, ou simplesmente armado em chico-esperto, não teve pudor em apanhar um autocarro quando faltavam 10 quilómetros para cortar a meta. Depois, foi fácil. Já perto do final da prova em Kielder, desceu do autocarro, escondeu-se atrás de uma árvore e, discretamente, juntou-se ao pelotão. Depois de uma investigação, Rob Sloan acabou por confessar a proeza, no entanto, o terceiro lugar no pódio ficou garantido. Mas esta parte, pelos vistos, não foi impedimento de desclassificação ou de reprimenda.
Isto fez-me lembrar de quantos Antónios há por esse mundo fora e de quantos Manuéis e Sloanes lhes passam à frente, mesmo que injustamente, sem carácter e com a maior pouca-vergonha.
A vida tem destas coisas.

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